O castelo em ruínas

.

O Carlos limpou as lágrimas que lhe corriam pela cara abaixo. “Ela fez de propósito.” murmurou, “estou contente de lhe ter batido.” Ele tinha um ar sombrio ao sentar-se na cadeira, onde devia ficar, segundo as ordens da mãe, tanto tempo quanto fosse necessário, até se sentir arrependido de ter tratado a irmã tão mal. Ainda há alguns instantes o Carlos estava tão contente! Na véspera tinha sido o seu aniversário. Entre os vários presentes, havia uma grande caixa de cubos para construção, do tio Alberto. Não eram como os que se compram na loja. O tio Alberto tinha os feito ele próprio. Tinha-os serrado e aplainado em diversos formatos e tamanhos. Com esses cubos, podiam se construir casas, estábulos, pontes e castelos.
Toda a manhã, o Carlos tinha estado ocupado com o castelo, construindo-o com o máximo cuidado. Ele tinha deixado espaço para as janelas e tinha erigido uma torre alta. Nem lhe faltava a ponte levadiça. Quando estava a acabá-lo, a Marta, a irmãzita, aproximou-se. “Oh Carlos!” Exclamou. “Que castelo fantástico tu fizeste! Posso trazer a minha boneca para vir ver o castelo?” “Não, este castelo é destinado a soldados e não a bonecas”, respondeu o Carlos, sem mesmo levantar os olhos. Ele estava todo mergulhado na sua construção magnifica.
Nessa altura o cão entrou a correr pela porta dentro, saltando para a Marta alegremente. Ao saltar-lhe assim em cima, fez com que ela perdesse o equilíbrio e caísse directamente em cima do belo castelo, que tinha dado já tanto trabalho. A construção desmoronou-se, transformando se numa perfeita ruína. No momento seguinte, o Carlos desatou a bater na irmãzita: “Lá porque eu não te deixei pôr a boneca no castelo, destruíste-me tudo!” gritava ele furioso.
“A culpa não foi minha”, chorava a Marta. A mãe veio imediatamente, ao som do barulho. Ouviu toda a história e ordenou ao Carlos que se sentasse na cadeira, até estar pronto a dizer à irmã que lamentava o sucedido E ali estava ele, sentado, em justa ira.
Ele ouvia a mãe a trabalhar na cozinha; mas perguntava a si próprio onde estaria a Marta. Estava quase na hora do almoço. “Dar-me-ão alguma coisa?” pensou. “Mas lá dizer que lamento o acontecido, isso não digo, nem que morra de fome!” resmungava ele baixinho, para ninguém o ouvir. De repente, ouviu a voz da Marta. Ela estava do lado de lá da janela, a ralhar com o cão. “Se não me tivesses empurrado, eu não tinha lá caído”, dizia ela, toda séria ao cão, o qual não parecia entender nada.
Então o Carlos teve uma ideia luminosa. Evidentemente que a culpa não era da Marta, visto que o cão a empurrara. “Fui injusto em bater na minha irmã. Vou ter com ela, dizendo que lamento muito”, resolveu o Carlos.
Levantou se dum salto, esquecendo-se que tinha entrelaçado as pernas nos pés da cadeira. Assim, o inevitável foi cair no chão juntamente com a cadeira. Isto aconteceu no instante preciso em que a Marta vinha a entrar. “Magoaste-te?” perguntou ela assustada.
“Felizmente que não. Só me assustei”, disse ele a rir. “Lamento ter-te batido. Nem soube como se deu o acidente.”
A Marta explicou: “Fez-me pena o teu castelo; mas o cão saltou para cima de mim, de maneira que perdi simplesmente o equilíbrio e caí.”
“Já sei. É que ouvi o que disseste ao cão”, respondeu o Carlos. “Agora vou construir um castelo maior e melhor. Depois do almoço podes vir ajudar-me. Assim que estiver pronto podes trazer a tua boneca. Ela será a castelã que está a espera do cavaleiro, que vem das manobras, como nos tempos antigos.”
De tarde, ambas as crianças brincaram alegremente. E nem sequer disseram uma palavra má um ao outro.

Sem comentários:

Enviar um comentário