O Apanhador de
Sonhos
.
Bem cedinho,
antes mesmo de todos acordarem, Zacarias percebeu que aquele seria um sábado
maravilhoso. Duas zebras e um enorme cachorro peludo estav
am bebendo água
no chafariz de seu jardim. Há meses Zacarias vinha pedindo aos pais um cachorro
como aquele.
- Esperem por
mim! – ele gritou, calçando o tênis.
As zebras saíram
galopando pelo jardim assim que Zacarias abriu a porta. O cachorro correu atrás
delas. Quando Zacarias ia persegui-los, notou outra coisa estranha. Na entrada
de suas casa havia um caminhão com os pára-lamas sujos.Um velho baixinho estava
de pé em cima de um caixote, olhando dentro do capô. Ele vestia um macacão com
botões brilhantes.
- Bom dia – disse
Zacarias. – Quem é você?
- Leia o que está
escrito na porta – sugeriu o velho, sorrindo.
- Apanhador de
Sonhos. – Zacarias leu em voz alta e perguntou espantado: - O que isso quer
dizer?
O Apanhador de
Sonhos tirou a cabeça de dentro do capô e sorriu. Ele tinha bochechas rosadas e
olhos tão azuis como as tardes de verão.
- Você já pensou
no que acontece com seus sonhos? – ele perguntou a Zacarias.
Zacarias balançou
a cabeça negativamente.
- Ah, não? Bem,
eu venho de madrugada e recolho todos. É regulamento da prefeitura – explicou o
Apanhador de Sonhos.
- Uau! E o que acontece
se você não recolhe os sonhos? – perguntou Zacarias.
- Isso seria um
desastre! – exclamou o Apanhador de Sonhos. – Quanto mais a manhã se aproxima,
mais reais se tornam os sonhos. Uma vez tocados pela luz do sol, eles
permanecem para sempre. Imagine! A cidade ficaria abarrotada de sonhos!
Naquele momento, dois
piratas apareceram na rua.
- Eles eram do
sonho de alguém? – perguntou Zacarias.
- Sim – respondeu
o Apanhador de Sonhos, enquanto voltava a trabalhar no motor.
Zacarias o ouviu
resmungar algo a respeito de anéis de pistão. – Seu caminhão enguiçou? – ele
perguntou.
- É. Não quer
pegar e eu esqueci minha caixa de ferramentas – o Apanhador de Sonhos parecia
preocupado.
- Posso pegar
algumas ferramentas em casa – ofereceu Zacarias. – O que você precisa?
- Você pode me
conseguir uma chave de vela, um verificador de bateria e um jogo de chaves de
boca?
Zacarias correu
até a garagem e olhou para as ferramentas de seu pai. Ele não sabia bem como se
chamavam. O único jogo que viu foram uns apetrechos de beisebol que pareciam
muito usados. Ele encontrou o verificador de bateria, mas não sabia qual das
chaves era a certa. Pegou uma porção delas para que o Apanhador de Sonhos
pudesse escolher.
Assim que
Zacarias voltou ao caminhão, o cachorro peludo passou correndo, perseguindo
três coelhos.
- Ei, aquele
cachorro era do meu sonho! – exclamou, surpreso, Zacarias. – Eu queria tanto
ter um cachorro como aquele.
Naquele momento
havia sonhos por toda parte. O Apanhador de Sonhos olhava à sua volta
ansiosamente
- A rua já
deveria estar desocupada – ele se lamentava.
– Em breve o sol
nascerá. Isso é muito sério.
Ele apanhou uma
ferramenta das que Zacarias havia trazido, mas Zacarias achou que era pequena
demais para um caminhão tão grande. Será que o Apanhador de Sonhos sabia o que
estava fazendo?
- Posso ajuda-lo
a consertar o caminhão? – perguntou Zacarias. – Uma vez consertei o aspirador
de pó da minha mãe, depois que ele aspirou meus brinquedos.
O Apanhador de
Sonhos sorriu.
- Caminhões e
aspiradores são bem diferentes por dentro. Mas, talvez, você possa fazer um
serviço especial para mim.
- O quê? –
perguntou Zacarias.
- Talvez você
possa colocar os sonhos para dentro do caminhão. Mas alguns sonhos, como o
cachorro, podem ser difíceis de pegar – ele falou com um brilho no olhar. – Você
acha que consegue fazer isso?
- Oh, sim, eu
consigo – respondeu Zacarias, todo empolgado.
Então Zacarias
entrou em casa e escolheu cuidadosamente as coisas de que necessitaria para
capturar os sonhos. Quando voltou, o sol já estava nascendo. Ele teria de ser
rápido.
As cenouras e a
corda funcionaram bem, e logo as zebras estavam dentro do caminhão. As araras
gostaram do apito prateado.
- Este trabalho é
moleza – disse Zacarias.
- Agora vou
procurar o cachorro peludo.
Zacarias ouviu
latidos no quintal do vizinho e foi investigar. O cachorro estava saltando por
entre anéis de fogo que um dragão soltava pela boca.
Naquele instante
um cavaleiro de armadura apareceu no quintal e, vendo o dragão, puxou sua espada.
O cachorro saiu correndo.
- Volte aqui! –
gritou Zacarias, mas o cachorro continuou correndo.
Quando o
cavaleiro ergueu a espada, o dragão empalideceu de pavor. Felizmente, naquele
momento um cavalo enorme saiu trotando do canteiro de rosas.
O cavaleiro
guardou sua espada e, todo feliz, abraçou o pescoço do cavalo.
- Puxa –
sussurrou Zacarias -, essa foi por pouco.
Agora o quintal
estava repleto de sonhos.
- Sigam-me todos!
– ordenou Zacarias, mostrando o caminho.
Um a um, os
sonhos foram subindo a rampa para dentro do caminhão. Zacarias suspirou aliviado.
Só faltava o cachorro.
Zacarias seguiu
novamente pela rua, assobiando para chamá-lo. O latido do cachorro parecia vir
de dentro de uma moita.
- Saia já daí! –
gritou Zacarias, afastando os galhos.
Mas o cachorro
havia desaparecido.
Os raios do sol
já estavam alcançando o topo das árvores. Zacarias decidiu que era melhor falar
com o Apanhador de Sonhos.
- Falta muito
para consertar o caminhão? – ele perguntou. – Nosso tempo está se esgotando.
- Eu sei, mas não
consigo achar o defeito – respondeu o Apanhador de Sonhos, escolhendo outra
ferramenta.
Zacarias
sentou-se no pára-choque. – Sabe de uma coisa? – perguntou. – Eu sempre durmo
de olhos abertos para poder enxergar os meus sonhos passando no escuro. Uma vez
sonhei com rinocerontes.
- Eu me lembro –
respondeu o Apanhador de Sonhos. – Era um rinoceronte tão pesado que achei que
as molas do meu caminhão não fossem agüentar. Vamos ter de fazer um trato,
Zacarias, nada de sonhos com rinocerontes.
- Talvez – disse
Zacarias, sorrindo.
Enquanto o
Apanhador de Sonhos experimentava outras ferramentas, Zacarias foi procurar o
cachorro. Olhou nas garagens, nos jardins, embaixo dos caminhões e atrás das
árvores. Então, ouviu um barulho. Correu em direção ao cachorro, mas ele saltou
mais rápido. Zacarias levantou-se do chão cuspindo terra. Não havia sinal do
cachorro. “Talvez ele goste desta rua”, pensou Zacarias. “talvez ele não queira
ir embora.” Os raios de sol brilhavam em todas as janelas das casas. Zacarias
foi dizer ao Apanhador de Sonhos que um dos sonhos ainda estava solto.
- Afaste-se! –
avisou o Apanhador de Sonhos quando Zacarias apareceu. – Vou tentar fazer o
motor funcionar.
Zacarias
afastou-se. Seguiu-se uma longa pausa. O cavalo relinchou. Então houve uma
explosão, e o motor voltou a funcionar. E bem a tempo, pois a luz do sol já
inundava a rua.
- Viva! – gritou
o Apanhador de Sonhos. – Obrigado. Não teria conseguido sem a sua ajuda!
- Não consigo
encontrar o cachorro! – gritou Zacarias.
O Apanhador de
Sonhos seu um assobio agudo e o cachorro peludo saltou de dentro das moitas.
Ele era exatamente como Zacarias imaginava que um cachorro deveria ser, com
longos bigodes e olhos da cor de chocolate. Quando o cachorro abanou o rabo,
suas patas traseiras quase saíram do chão.
- Você gostaria
de ficar com esse cachorro? – perguntou o Apanhador de Sonhos.
- Eu adoraria! –
respondeu Zacarias.
- Então ele é seu
– disse o Apanhador de Sonhos. – Vais ser mais divertido que consertar o
aspirador de pó.
Zacarias deu um
berro. Quase não podia acreditar na sua sorte.
- Obrigado! – ele
gritou.
O Apanhador de
Sonhos soltou o freio e acenou. – E o nosso trato? – ele gritou. – Nada de
rinocerontes, hem!
- Combinado! –
respondeu Zacarias, rindo, emquanto o caminhão saiu andando com suas molas
arriadas.
Zacarias agarrou
seu maravilhoso cachorro dos sonhos pela coleira e juntos correram para casa.
- Vamos pular na
cama de mamãe e papai – disse Zacarias. – Eles vão achar que ainda estão
sonhando, quando abrirem os olhos e virem você!
Troon Harrison Alan e Lea Daniel
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