A princesa e a ervilha

ERA UMA VEZ um príncipe que viajou pelo mundo inteiro à procura da princesa ideal para se casar. Tinha de ser linda e de sangue azul, uma verdadeira princesa!

Mas depois de muitos meses a viajar de país em país, o príncipe voltou para o seu reino, muito triste e abatido pois não tinha conseguido encontrar a princesa que se tornaria sua mulher.

Numa noite fria e escura de inverno, quando o príncipe já pensava ser impossível casar com uma princesa, houve uma terrível tempestade. No meio da tempestade, alguém bateu à porta do castelo. O velho rei intrigado foi abrir a porta. Qual não foi a sua surpresa ao ver uma bela menina completamente molhada da cabeça aos pés.

A menina disse: “poderei passar a noite aqui no seu castelo, senhor? Fui surpreendida pela tempestade enquanto viaja já de volta para o meu reino. Estou com fome e frio e não tenho onde ficar…”.

O rei desconfiado perguntou: Sois uma princesa? A princesa respondeu timidamente: “Sim, senhor”.

“Então entrai, pois seria imperdoável da minha parte deixar-vos lá fora numa noite como esta!” Respondeu o rei, não muito convencido de se tratar mesmo de uma princesa.

Enquanto a princesa se secava e mudava de roupa, o rei informou a rainha daquela visita inesperada. A rainha pôs-se a pensar e, com um sorriso matreiro, disse “vamos já descobrir se se trata de uma verdadeira princesa ou não…”.

A rainha subiu ao quarto de hóspedes onde ia ficar a princesa e, sem ninguém ver, tirou a roupa de cama e colocou por baixo do colchão uma ervilha. De seguida colocou por cima da cama mais vinte colchões e edredões e, finalmente, a roupa de cama.

Então, desceu a escadaria e dirigiu-se à princesa, apresentando-se, e dizendo amavelmente: Já pode subir e descansar. Amanhã falaremos com mais calma sobre a menina e o seu reino…

A princesa subiu e deitou-se naquela cama estranha que mais parecia uma montanha!

Na manhã seguinte, a princesa desceu para tomar o pequeno almoço. O rei e a rainha já estavam sentados à mesa. A princesa saudou os reis e sentou-se. Então a rainha perguntou: Como passou a noite, princesa?

A princesa respondeu: “Oh, a verdade é que não consegui dormir nada naquela cama tão incómoda… senti qualquer coisa no colchão que me incomodou toda a noite e deixou o meu corpo todo dorido!

O rei levantou-se e, muito ofendido, exclamou: “Impossível! Nunca nenhum convidado se queixou dos nossos excelentes colchões de penas!

Mas a rainha interrompe-o e disse com um sorriso: “Pode sim!” E explicou ao rei o que tinha feito para ver se realmente se tratava de uma princesa ou alguém a querer enganá-los.

A rainha levantou-se e disse a todos:” Só uma verdadeira princesa com uma pele tão sensível e delicada é capaz de sentir o incómodo de uma ervilha através de vinte colchões e edredões!”.

princesa e príncipeO rei e a rainha apresentaram a princesa ao seu filho o príncipe e ele, mal a viu, ficou logo perdido de amores.


Ao fim de alguns dias, o príncipe casou com a princesa, com a certeza de ter encontrado finalmente uma princesa verdadeira que há tanto tempo procurava.

A partir daquele dia, a ervilha passou a fazer parte das joias da coroa, para que todos se lembrassem da história da princesa ervilha.




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O castelo em ruínas

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O Carlos limpou as lágrimas que lhe corriam pela cara abaixo. “Ela fez de propósito.” murmurou, “estou contente de lhe ter batido.” Ele tinha um ar sombrio ao sentar-se na cadeira, onde devia ficar, segundo as ordens da mãe, tanto tempo quanto fosse necessário, até se sentir arrependido de ter tratado a irmã tão mal. Ainda há alguns instantes o Carlos estava tão contente! Na véspera tinha sido o seu aniversário. Entre os vários presentes, havia uma grande caixa de cubos para construção, do tio Alberto. Não eram como os que se compram na loja. O tio Alberto tinha os feito ele próprio. Tinha-os serrado e aplainado em diversos formatos e tamanhos. Com esses cubos, podiam se construir casas, estábulos, pontes e castelos.
Toda a manhã, o Carlos tinha estado ocupado com o castelo, construindo-o com o máximo cuidado. Ele tinha deixado espaço para as janelas e tinha erigido uma torre alta. Nem lhe faltava a ponte levadiça. Quando estava a acabá-lo, a Marta, a irmãzita, aproximou-se. “Oh Carlos!” Exclamou. “Que castelo fantástico tu fizeste! Posso trazer a minha boneca para vir ver o castelo?” “Não, este castelo é destinado a soldados e não a bonecas”, respondeu o Carlos, sem mesmo levantar os olhos. Ele estava todo mergulhado na sua construção magnifica.
Nessa altura o cão entrou a correr pela porta dentro, saltando para a Marta alegremente. Ao saltar-lhe assim em cima, fez com que ela perdesse o equilíbrio e caísse directamente em cima do belo castelo, que tinha dado já tanto trabalho. A construção desmoronou-se, transformando se numa perfeita ruína. No momento seguinte, o Carlos desatou a bater na irmãzita: “Lá porque eu não te deixei pôr a boneca no castelo, destruíste-me tudo!” gritava ele furioso.
“A culpa não foi minha”, chorava a Marta. A mãe veio imediatamente, ao som do barulho. Ouviu toda a história e ordenou ao Carlos que se sentasse na cadeira, até estar pronto a dizer à irmã que lamentava o sucedido E ali estava ele, sentado, em justa ira.
Ele ouvia a mãe a trabalhar na cozinha; mas perguntava a si próprio onde estaria a Marta. Estava quase na hora do almoço. “Dar-me-ão alguma coisa?” pensou. “Mas lá dizer que lamento o acontecido, isso não digo, nem que morra de fome!” resmungava ele baixinho, para ninguém o ouvir. De repente, ouviu a voz da Marta. Ela estava do lado de lá da janela, a ralhar com o cão. “Se não me tivesses empurrado, eu não tinha lá caído”, dizia ela, toda séria ao cão, o qual não parecia entender nada.
Então o Carlos teve uma ideia luminosa. Evidentemente que a culpa não era da Marta, visto que o cão a empurrara. “Fui injusto em bater na minha irmã. Vou ter com ela, dizendo que lamento muito”, resolveu o Carlos.
Levantou se dum salto, esquecendo-se que tinha entrelaçado as pernas nos pés da cadeira. Assim, o inevitável foi cair no chão juntamente com a cadeira. Isto aconteceu no instante preciso em que a Marta vinha a entrar. “Magoaste-te?” perguntou ela assustada.
“Felizmente que não. Só me assustei”, disse ele a rir. “Lamento ter-te batido. Nem soube como se deu o acidente.”
A Marta explicou: “Fez-me pena o teu castelo; mas o cão saltou para cima de mim, de maneira que perdi simplesmente o equilíbrio e caí.”
“Já sei. É que ouvi o que disseste ao cão”, respondeu o Carlos. “Agora vou construir um castelo maior e melhor. Depois do almoço podes vir ajudar-me. Assim que estiver pronto podes trazer a tua boneca. Ela será a castelã que está a espera do cavaleiro, que vem das manobras, como nos tempos antigos.”
De tarde, ambas as crianças brincaram alegremente. E nem sequer disseram uma palavra má um ao outro.

O Barbeiro



Um cristão e um barbeiro ateu estavam a conversar acerca de assuntos de fé. O barbeiro dizia:
— Não posso acreditar no teu Deus. Dizes que ele é Amor. Se o fosse, não consentiria que houvesse tanta
gente má e tanto mal no mundo. O cristão não respondeu e continuaram em silêncio. Mais adiante, passaram por um parque. Num dos bancos estava deitado um indivíduo andrajoso. Roupa suja, cabelo comprido e descuidado, barba por fazer.
O cristão disse:
— Não és um bom barbeiro se permites que este homem continue com o cabelo comprido e a barba por
fazer. Indignado, o barbeiro respondeu:
— Tenho eu acaso culpa por este homem ter esse aspecto? Não tenho culpa nenhuma, pois ele nunca foi à minha barbearia. Se fosse lá, seria bem atendido. O cristão continuou:
— Então não podes culpar Deus por permitir que os homens continuem a seguir por caminhos errados. Ele constantemente os convida a viverem uma vida digna, mas respeita a sua liberdade.
O que de mais belo possuímos é o dom da liberdade. Tão importante ele é que até Deus o respeita, mesmo quando preferimos praticar a maldade. Deus fica triste, pois quer a nossa felicidade. Mas recusa a tratar-nos como marionetas.

MEMÓRIAS DE UM NATAL PASSADO



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Quando era criança, na noite de Natal, eu e o meu irmão partia-mos nozes e avelãs no chão de cimento da cozinha, à luz do candeeiro, enquanto a minha mãe se ocupava das coisas que as mães fazem.
Depois, quando o meu pai chegava, jantava-mos como sempre e seguia-se, propriamente, a cerimónia de Natal. Naquela noite o meu pai trazia um bolo-rei e uma garrafa de vinho do Porto.
Sentados à mesa, abria-se a garrafa de vinho do porto e partia-se o bolo em fatias. O meu irmão e eu disputava-mos o brinde do bolo-rei comendo o mais rápido possível na expectativa de nos calhar em sorte não a fava, mas sim o almejado brinde!
natalEu não gostava daquele bolo, mas naquele tempo a gente “não sabia o que era gostar”, como dizia a minha mãe quando nos punha o prato à frente. Assim acostumada, engolia rapidamente as fatias para não sentir o sabor e ser a primeira a encontrar o brinde.
O meu pai, deleitava-se com o copito de vinho do Porto e observava calado as nossas criancices.
Depois, vencedor e derrotado continuavam felizes, na expectativa da verdadeira magia do Natal. Púnhamos o nosso sapato na chaminé, (eu punha a bota de borracha, que era maior), para que, à meia-noite o menino Jesus pusesse a prenda.
Íamos para a cama excitados, mas queríamos dormir para o tempo passar depressa e ser logo de manhã. Mal o sol nascia, corria-mos direitos ao sapatinho para ver o que o menino Jesus tinha la deixado.
Lembro-me de chegar junto à chaminé e encontrar o maior chocolate que alguma vez tivera visto ou ousara imaginar existir. O meu irmão, quatro anos mais velho, explicou-me que era de Espanha, que era uma terra muito longe onde havia dessas coisas que não havia cá.
O mano é que sabia tudo e, por isso, satisfeita com a resposta e ainda mais com o presente, levei o dia todo para conseguir comê-lo a saborear cada pedacinho devagar!
Depois, não me lembro quando, o meu irmão contou-me que não era o menino Jesus que punha a prenda no sapatinho, mas sim o nosso pai. Eu não acreditei e fui perguntar-lhe.
O meu pai, que gostava ainda mais daquilo do que nos, respondeu de imediato que não, que era mentira do meu irmão, que ele sabia lá, pois se estava a dormir…
Com a pulga atrás da orelha, no Natal seguinte decidi ficar de vigília, para ver se apanhava o meu pai em flagrante, ou via o Menino. Mas os olhos pesavam e, contra minha vontade e sem dar por isso, adormecia sempre e nunca chegava a apurar a verdade.
Na idade dos porquês, havia outro mistério à volta da prenda de natal. É que eu ouvia dizer aos miúdos la da rua, que eram todos os que eu conhecia no mundo, que lhes mandavam escrever uma carta ao menino Jesus a pedir o que queriam receber. Maravilhada com tal perspetiva, apressei-me a aprender a ler e a escrever com a D. Adelina, que era uma senhora que tomava conta da gente quando a nossa mãe tinha que ir trabalhar e que tinha a 4ª classe, por isso era muito respeitada sobre os assuntos da escrita e das contas.
Antes de entrar para a escola primária já sabia ler e escrever mas isso não era suficiente.
Faltava ainda arranjar maneira de fazer chegar a carta ao seu destino. Para mim, aquilo não resultou: da lista de brinquedos que eu conhecia, não estava nenhum no meu sapato.
Questionada, a minha mãe, que tinha ficado encarregue de dar a carta ao Sr. Carteiro, disse-me que o menino Jesus só dava prendas boas aos meninos que se portavam bem. Mas eu já era uma menina crescida, já tinha entrado para a escola primária (em 1974) e sabia que os que recebiam brinquedos eram diferentes de mim noutras coisas também.
E foi então que, depois de ler a carta dos Direitos da Criança que estava afixada na porta da sala de aula, soube de tudo. Senti-me triste, zangada e confusa: Porque é que escreviam coisas certas e as deixavam ser erradas? Eles eram grandes, podiam fazer tudo! Se estava escrito ali na porta da escola era porque era verdade e importante, igual para todas as crianças como dizia na Carta. Que tínhamos direito a um pai e uma mãe lembro-me. A partir dali todas as coisas que a que a criança tinha direito, eu não tinha, e isso eram por culpa de alguém. Experimentei pela primeira vez um sentimento que hoje sei chamar-se injustiça.
Tranquilizei-me com o pensamento de que um dia viria alguém importante e faria com que tudo aquilo se cumprisse. E eu aí esperar. Era criança, tinha muito tempo: nascera a minha consciência cívica.
Compreendi que os adultos diziam as coisas que deviam ser, mas não eram como eles diziam. Nesta compreensão confusa do mundo escrevi nesse primeiro ano na escola a minha carta ao menino Jesus e deixei-a eu mesma no sapatinho. Era um bilhete maior que o sapato e dizia assim:
“Menino Jesus
Obrigada pela prenda.
Vou pensar em ti todas as noites mesmo depois do natal passar e espero por ti no natal que vem. Gosto muito de ti.
Adeus.”
E rezei a Deus que, houvesse ou não menino Jesus para por a prenda no sapatinho, me trouxesse todas as noites o meu pai para casa.

. A andorinha aventureira

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Júlia era uma andorinha que adorava voar por aí, pular de galho em galho e cantar cedinho ao raiar do dia. Estava sempre feliz em acordar cedinho e ver papai e mamãe andorinha preparados para mais um dia de cantoria. Mas não era só eles que ela gostava de ver, Júlia era uma exploradora e assim ia visitar os pássaros da vizinhança! “Bom dia Seu Pintassilgo! Como vai o senhor?” Dizia Júlia sorridente. “Olá Rouxinol! Que lindo seu canto, Bem-te-vi!” E assim passava o dia a conversar e cantarolar com os outros pássaros. “Júlia, a andorinha aventureira” era o que se ouvia os pássaros comentarem entre galhos e ramos. Entre um piu-piu e outro Júlia acabou por conquistar toda a vizinhança, todos gostavam dela e sempre faziam festa quando a viam. Assim passou-se a primavera, a brincar a a pular, o verão não foi muito diferente, Júlia batia as asas de um lado pro outro, quando o outono chegou Mamãe anunciou: “Júlia minha filha, quando o frio estiver para chegar vamos migrar. Nós e todas as andorinhas vamos voar juntas, por muito tempo e vamos morar em um ninho novo em um lugar mais quente. Vai ser a sua primeira migração, você está feliz?” Mas Júlia não estava feliz, muito pelo contrário! Estava assustada e angustiada. Ela iria deixar seu ninho, suas árvores, e o pior, toda a passarada da vizinhança! E agora? O que ela iria fazer? Ela sentia muito medo e sabia que não queria migrar. Mas por mais que tentasse Júlia não conseguia convencer sua mamãe de que eles deveriam ficar. “Júlia a andorinha aventureira está com medo?” Dizia sua mamãe “Ora, não tem porque não querer migrar, nós vamos todos juntos para um ninho novo, em um lugar melhor, longe do frio, e você vai fazer muitos amigos!” Júlia se despediu de todos os pássaros, dizendo que tinha que migrar com sua família, mas que ia sentir muitas saudades deles. O sábio Rouxinol disse à Júlia “Não precisa ficar triste, nossa querida andorinha!  O inverno passa rápido, e antes do próximo verão você estará de volta!” Júlia ficou de bico calado, pensando se o sábio Rouxinol estaria mesmo certo. E antes do primeiro vento-sul atingir o arvoredo, a comitiva de andorinhas bateu asas rumo ao norte, e com eles a pequena Júlia, esforçando-se para mostrar às outras andorinhas como ela conseguia voar bem e por tanto tempo. Quando o grupo decidiu pousar, Júlia ficou acanhada, tentando se familiarizar com a nova árvore onde viveriam. Aos poucos ela decidiu explorar o galho, logo ela já queria explorar mais um galho, passeava observando tudo calada, quando de trás de uma folhagem surgiu um Uirapuru que cantou lindamente para ela e disse: “Olá, olá! Que beleza receber as andorinhas de volta! Seja bem vinda, eu sou o Chico, e você?” “Júlia. Você conhece as andorinhas?” “Ah, sim. Elas vem pra cá todo ano.” De repente eles foram interrompidos por um Tuim que fugia de uma Patativa. “Olá!” Disse o Tuim “Vocês querem brincar? Nós estamos brincando de voa-esconde.” E assim Júlia voltou a ser a andorinha aventureira que sempre foi, brincando com as outras aves da floresta, ela fez amigos para toda a vida. E sempre que migrava para o sul para passar o verão, Júlia reencontrava seus antigos vizinhos e assim matava a saudade!”.

Rainha das Almofadas



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Eleonor vivia em um reino não tão distante, muito quentinho e confortável, reino que todos conheciam, chamado de Camolândia.

Eleonor era princesa deste reino e não havia outro lugar em que ela preferisse estar. Lá ela podia ser o que quisesse, fazer coisas que seriam impossíveis de se fazer em outro lugar qualquer.

Eleonor gostava de tudo em seu reino, mas o seu lugar preferido era o Vale dos Saltos. Um lugar mágico, onde o chão era feito de molas cobertas com uma camada ultra fofa de espuma, espuma esta que era coberta com uma espécie de relva artificial, chamada lençol, que podia ser de qualquer cor desejada, sempre macio e muito cheiroso. No inverno, ele tornava-se ainda mais quente, pois cresciam flores, chamadas de Flanela, que ajudavam a aquecer ainda mais o vale.

Não havia uma única pessoa capaz de resistir aos seus encantos, todos os cidadãos de Camolândia haviam pulado pelo menos uma vez no Vale dos Saltos, até mesmo aqueles mais rabujentos.

Eleonor, apesar de ser uma criança fantástica, tinha um pequeno problema, ela não gostava de dormir. Seus pais já não sabiam mais o que fazer com a princesinha. Nada do que eles faziam parecia funcionar. Era sempre uma grande guerra para adormece-la, ela corria, escondia-se e pulava quando era apanhada. Não havia maneira de conseguir colocá-la na cama

Foi então que o rei e a rainha de Camolândia, depois de muito falarem e pensarem, e falarem novamente, tiveram a idéia que para eles, parecia ser a única coisa que poderia solucionar o problema de sua adorada filha. Eles ordenaram que os guardas confiscassem os travesseiros de todos os habitantes de seu reino. Assim a pequena Eleonor iria perceber a importância de uma noite de sono bem dormida.

Todos estavam dispostos a ajudar a pequena princesa a solucionar seu problema com o sono. Eleonor era muito amada por todos de seu reino.

Após dois dias sem poderem dormir, todos estavam exaustos, sem energias para fazer fosse o que fosse. Mas enquanto todos adormeciam pelos cantos, as baterias de Eleonor pareciam não esgotar. A última esperança de seus pais parecia ter falhado.

Mas no dia seguinte, Eleonor não se sentia muito bem, ela julgava que estava doente. Seu corpo estava muito cansado para se mexer, seus olhos ardiam como se estivessem em fogo, sua boca não parava de abrir sozinha e dela saia um som estranho, como de uma caverna cheia de monstros. Ela mal conseguia manter os olhos abertos.Eleonor estava muito preocupada, pois isso nunca tinha acontecido com ela antes. Talvez fosse uma gripe, ou a tal da virose, quem sabe poderia ser um torcicolo. Sim decididamente era uma destas opções.

Mas o que ela não sabia, era que não era nenhuma destas opções, era outra coisa, que ela jamais poderia imaginar. Algo que chamamos de SONO. Eleonor decidiu sentar-se embaixo de uma árvore do Vale dos Saltos, para ver se esta doença passava, assim ela poderia ir brincar. E foi então que seus olhos se fecharam, e ela adormeceu ali mesmo. Quando acordou a princesa percebeu que não estava doente, mas sim cansada, ela tinha sono, ao chegar a esta conclusão foi direta para o castelo para falar com seus pais.

Ao chegar lá, viu-os dormindo, esperou até que eles acordassem e disse-lhes que estava muito arrependida pelo que havia feito, pediu muitas desculpas para todos os habitentes de Camolândia, devolveu seus travesseiros, e prometeu que a partir daquele dia iria para cama às horas certas.

Eleonor percebeu a importância que o sono tinha, e que depois de uma boa noite de sono bem descansada era muito melhor brincar. E assim ela passou a ir para a cama quando seus pais mandavam. Todos ficaram tão felizes que deram-lhe o título de Rainha das Almofadas e fizeram uma festa para comemorar.

Mas quem estava mesmo muito feliz era a pequena princesa Eleonor, que além de tudo isso, tinha agora um novo amigo, o João Pestana.

de Carolina Siqueira Rogeski Pereira.

O Apanhador de Sonhos



O Apanhador de Sonhos
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Bem cedinho, antes mesmo de todos acordarem, Zacarias percebeu que aquele seria um sábado maravilhoso. Duas zebras e um enorme cachorro peludo estav
am bebendo água no chafariz de seu jardim. Há meses Zacarias vinha pedindo aos pais um cachorro como aquele.
- Esperem por mim! – ele gritou, calçando o tênis.
As zebras saíram galopando pelo jardim assim que Zacarias abriu a porta. O cachorro correu atrás delas. Quando Zacarias ia persegui-los, notou outra coisa estranha. Na entrada de suas casa havia um caminhão com os pára-lamas sujos.Um velho baixinho estava de pé em cima de um caixote, olhando dentro do capô. Ele vestia um macacão com botões brilhantes.
- Bom dia – disse Zacarias. – Quem é você?
- Leia o que está escrito na porta – sugeriu o velho, sorrindo.
- Apanhador de Sonhos. – Zacarias leu em voz alta e perguntou espantado: - O que isso quer dizer?
O Apanhador de Sonhos tirou a cabeça de dentro do capô e sorriu. Ele tinha bochechas rosadas e olhos tão azuis como as tardes de verão.
- Você já pensou no que acontece com seus sonhos? – ele perguntou a Zacarias.
Zacarias balançou a cabeça negativamente.
- Ah, não? Bem, eu venho de madrugada e recolho todos. É regulamento da prefeitura – explicou o Apanhador de Sonhos.
- Uau! E o que acontece se você não recolhe os sonhos? – perguntou Zacarias.
- Isso seria um desastre! – exclamou o Apanhador de Sonhos. – Quanto mais a manhã se aproxima, mais reais se tornam os sonhos. Uma vez tocados pela luz do sol, eles permanecem para sempre. Imagine! A cidade ficaria abarrotada de sonhos!
Naquele momento, dois piratas apareceram na rua.
- Eles eram do sonho de alguém? – perguntou Zacarias.
- Sim – respondeu o Apanhador de Sonhos, enquanto voltava a trabalhar no motor.
Zacarias o ouviu resmungar algo a respeito de anéis de pistão. – Seu caminhão enguiçou? – ele perguntou.
- É. Não quer pegar e eu esqueci minha caixa de ferramentas – o Apanhador de Sonhos parecia preocupado.
- Posso pegar algumas ferramentas em casa – ofereceu Zacarias. – O que você precisa?
- Você pode me conseguir uma chave de vela, um verificador de bateria e um jogo de chaves de boca?
Zacarias correu até a garagem e olhou para as ferramentas de seu pai. Ele não sabia bem como se chamavam. O único jogo que viu foram uns apetrechos de beisebol que pareciam muito usados. Ele encontrou o verificador de bateria, mas não sabia qual das chaves era a certa. Pegou uma porção delas para que o Apanhador de Sonhos pudesse escolher.
Assim que Zacarias voltou ao caminhão, o cachorro peludo passou correndo, perseguindo três coelhos.
- Ei, aquele cachorro era do meu sonho! – exclamou, surpreso, Zacarias. – Eu queria tanto ter um cachorro como aquele.
Naquele momento havia sonhos por toda parte. O Apanhador de Sonhos olhava à sua volta ansiosamente
- A rua já deveria estar desocupada – ele se lamentava.
– Em breve o sol nascerá. Isso é muito sério.
Ele apanhou uma ferramenta das que Zacarias havia trazido, mas Zacarias achou que era pequena demais para um caminhão tão grande. Será que o Apanhador de Sonhos sabia o que estava fazendo?
- Posso ajuda-lo a consertar o caminhão? – perguntou Zacarias. – Uma vez consertei o aspirador de pó da minha mãe, depois que ele aspirou meus brinquedos.
O Apanhador de Sonhos sorriu.
- Caminhões e aspiradores são bem diferentes por dentro. Mas, talvez, você possa fazer um serviço especial para mim.
- O quê? – perguntou Zacarias.
- Talvez você possa colocar os sonhos para dentro do caminhão. Mas alguns sonhos, como o cachorro, podem ser difíceis de pegar – ele falou com um brilho no olhar. – Você acha que consegue fazer isso?
- Oh, sim, eu consigo – respondeu Zacarias, todo empolgado.
Então Zacarias entrou em casa e escolheu cuidadosamente as coisas de que necessitaria para capturar os sonhos. Quando voltou, o sol já estava nascendo. Ele teria de ser rápido.

As cenouras e a corda funcionaram bem, e logo as zebras estavam dentro do caminhão. As araras gostaram do apito prateado.
- Este trabalho é moleza – disse Zacarias.
- Agora vou procurar o cachorro peludo.
Zacarias ouviu latidos no quintal do vizinho e foi investigar. O cachorro estava saltando por entre anéis de fogo que um dragão soltava pela boca.
Naquele instante um cavaleiro de armadura apareceu no quintal e, vendo o dragão, puxou sua espada. O cachorro saiu correndo.
- Volte aqui! – gritou Zacarias, mas o cachorro continuou correndo.
Quando o cavaleiro ergueu a espada, o dragão empalideceu de pavor. Felizmente, naquele momento um cavalo enorme saiu trotando do canteiro de rosas.
O cavaleiro guardou sua espada e, todo feliz, abraçou o pescoço do cavalo.
- Puxa – sussurrou Zacarias -, essa foi por pouco.
Agora o quintal estava repleto de sonhos.
- Sigam-me todos! – ordenou Zacarias, mostrando o caminho.
Um a um, os sonhos foram subindo a rampa para dentro do caminhão. Zacarias suspirou aliviado. Só faltava o cachorro.
Zacarias seguiu novamente pela rua, assobiando para chamá-lo. O latido do cachorro parecia vir de dentro de uma moita.
- Saia já daí! – gritou Zacarias, afastando os galhos.
Mas o cachorro havia desaparecido.
Os raios do sol já estavam alcançando o topo das árvores. Zacarias decidiu que era melhor falar com o Apanhador de Sonhos.
- Falta muito para consertar o caminhão? – ele perguntou. – Nosso tempo está se esgotando.
- Eu sei, mas não consigo achar o defeito – respondeu o Apanhador de Sonhos, escolhendo outra ferramenta.
Zacarias sentou-se no pára-choque. – Sabe de uma coisa? – perguntou. – Eu sempre durmo de olhos abertos para poder enxergar os meus sonhos passando no escuro. Uma vez sonhei com rinocerontes.

- Eu me lembro – respondeu o Apanhador de Sonhos. – Era um rinoceronte tão pesado que achei que as molas do meu caminhão não fossem agüentar. Vamos ter de fazer um trato, Zacarias, nada de sonhos com rinocerontes.
- Talvez – disse Zacarias, sorrindo.
Enquanto o Apanhador de Sonhos experimentava outras ferramentas, Zacarias foi procurar o cachorro. Olhou nas garagens, nos jardins, embaixo dos caminhões e atrás das árvores. Então, ouviu um barulho. Correu em direção ao cachorro, mas ele saltou mais rápido. Zacarias levantou-se do chão cuspindo terra. Não havia sinal do cachorro. “Talvez ele goste desta rua”, pensou Zacarias. “talvez ele não queira ir embora.” Os raios de sol brilhavam em todas as janelas das casas. Zacarias foi dizer ao Apanhador de Sonhos que um dos sonhos ainda estava solto.
- Afaste-se! – avisou o Apanhador de Sonhos quando Zacarias apareceu. – Vou tentar fazer o motor funcionar.
Zacarias afastou-se. Seguiu-se uma longa pausa. O cavalo relinchou. Então houve uma explosão, e o motor voltou a funcionar. E bem a tempo, pois a luz do sol já inundava a rua.
- Viva! – gritou o Apanhador de Sonhos. – Obrigado. Não teria conseguido sem a sua ajuda!
- Não consigo encontrar o cachorro! – gritou Zacarias.
O Apanhador de Sonhos seu um assobio agudo e o cachorro peludo saltou de dentro das moitas. Ele era exatamente como Zacarias imaginava que um cachorro deveria ser, com longos bigodes e olhos da cor de chocolate. Quando o cachorro abanou o rabo, suas patas traseiras quase saíram do chão.
- Você gostaria de ficar com esse cachorro? – perguntou o Apanhador de Sonhos.
- Eu adoraria! – respondeu Zacarias.
- Então ele é seu – disse o Apanhador de Sonhos. – Vais ser mais divertido que consertar o aspirador de pó.
Zacarias deu um berro. Quase não podia acreditar na sua sorte.
- Obrigado! – ele gritou.
O Apanhador de Sonhos soltou o freio e acenou. – E o nosso trato? – ele gritou. – Nada de rinocerontes, hem!
- Combinado! – respondeu Zacarias, rindo, emquanto o caminhão saiu andando com suas molas arriadas.
Zacarias agarrou seu maravilhoso cachorro dos sonhos pela coleira e juntos correram para casa.
- Vamos pular na cama de mamãe e papai – disse Zacarias. – Eles vão achar que ainda estão sonhando, quando abrirem os olhos e virem você!
Troon Harrison Alan e Lea Daniel