Era uma família pequena, a nossa: mãe que acabara de saber
que estava grávida de uma suposta filha. Pai, ao saber do acontecimento,
abandonou minha mãe. Mainha sofria a cada minuto, voltou a morar na
casa de minha vó. As minhas tias faziam muito minha mãe sofrer, sempre
sufocando-a com a seguinte fala:
“-Uma mãe solteira na casa dos pais nunca pode pedir nada a ninguém ...”
E assim, passaram os nove meses, sofrimento, angústia, medo de ter
que me doar assim que acabasse de nascer. Ô mulher forte, fonte de toda
a minha luta porque nunca escondeu sua decisão, se fosse para consumar
os desejos da família ela iria morar debaixo da ponte.
Graças ao Divino Mestre e a determinação de mainha isso nunca
aconteceu. Nasci feia, pense numa menina sem graça, desnutrida, sem
nenhum fio de cabelo, nem conseguia chorar; porém nem com meu nascimento
minha família não mudou de opinião, a rejeição perdurou por parte de
todos, meu avô só conseguiu olhar para mim depois de oito dias, mesmo
assim só porque ficara sabendo que eu iria morrer.
Mas com todo meu sofrimento, meus olhinhos nunca pararam de brilhar,
sendo a única esperança da minha mãe porque se fosse esperar pela
saúde, não podia criar nenhuma expectativa.
E o tempo foi passando, passando, passando, minha mãe trabalhando na
roça, comprava um monte de vestidinhos, calcinhas bordadinhas e um
monte de chupetinhas de todas as cores.
Tive uma infância sem graça, cheia de ressentimento, não podia olhar
para meu pai, tinha muito medo dele, achava, uma das piores criaturas
desse mundo, mas já morava na cidade, na casa da minha bisavó, já
estudava, esse era meu único divertimento, fazendo todos os dias cópias
dos livros didáticos e números.
Aos sete anos aprendi a bordar com uma vizinha chamada Deré. Oba!
Outro divertimento! Já comecei a ganhar dinheiro, primeiro o caderno,
uniforme... Fantástico!
Resquícios do passado, nunca saíram da minha cabeça, mas tinha um
único objetivo que era de estudar para ser professora. E sempre passava
nos primeiros lugares, mas nunca deixava de escrever os textos dos
livros.
Aos dezoito anos, tomei outra decisão: esquecer o meu passado, parar
de cobrar e ser amiga do meu pai e sempre tendo convicção de que sempre
quero conquistar tudo com meus esforços. Primeiro, o abraço em meu pai;
segundo, também passei a chamá-lo de painho, realizando um antigo
desejo dele.
Logo, logo, terminei o magistério, estava pronta para realizar o
sonho de infância, ser uma professorinha. Sonho realizado com muito
sofrimento, mas fui chamada em Lagarto e Itaporanga D’Ajuda.
E dizer que fomos felizes para sempre seria muito exagero porque
ainda tenho vários projetos para colocar em prática, mas de uma coisa
não tenho dúvida de que coragem e determinação são os meios mais
eficazes para conseguir realizar todos os sonhos.
Veja mais contos infantis.
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